sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O Livro de Daniel

Capítulo Primeiro - Anunciação

            Donald Carter estava sentado em sua mesa. As decisões mais importantes do mundo eram tomadas naquela mesa. A mesa mais importante do mundo, no Salão Oval na Casa Branca.
Ser o presidente dos Estados Unidos lhe dava o poder de se sentar ali. Onde tudo acontecia. Não se sentia um simples observador, sentia-se o próprio ator de todo o espetáculo. Suas ações reverberavam por todo o mundo.
            Hoje seria o dia mais importante de sua carreira política, hoje seria o dia mais importante de sua vida. Planejara aquele dia por muito tempo. Anos de preparativos culminariam nas ações desenvolvidas no dia de hoje.
            Quando Monica Hudson ganhou a eleição dois anos atrás ninguém imaginava que o vice Donald Carter assumiria em condições tão estranhas. Primeiro a repentina doença que afastou bruscamente a presidente Hudson, depois sua renuncia que fragilizou o coração do povo americano, praticamente uma despedida, e por ultimo uma morte tão triste.
            O povo não conseguia sentir força por traz do atual presidente, nenhum dos Carter havia sido bem sucedido na política, a família vivia envolvida em escândalos sexuais e de corrupção. Donald Carter era um azarão que havia chegado em primeiro porque o cavalo da frente havia quebrado a pata e era só isso que significava para o povo americano, um vice. Tudo isso iria mudar hoje. O povo americano iria entender que Donald Carter não era nenhum fraco.
            Um sinal sonoro seguido de uma voz de mulher fez Carter abandonar por instantes seus pensamentos de glória – Senhor Presidente – A voz era tão doce e melodiosa que o presidente já havia se acostumado a ser chamado assim repentinamente.
            – O senhor Tyler acabou de chegar. – A voz melodiosa continuou – Como o senhor pediu para anunciá-lo assim que chegasse, eu ...
            – Tudo bem Rose – Interrompeu o Presidente calmamente. – Peça para que entre. Estou esperando.
            – Sim senhor presidente. – Respondeu prontamente a secretária de Carter.
            As peças finalmente estavam se posicionando no tabuleiro e Donald Carter faria a primeira jogada.

            Daniel Pompeu não era dado aos estudos. Odiava o curso de medicina que cursava na Universidade de São Paulo, mas seu pai o fizera prometer que se formaria um médico, assim como seu Avô Pompeu. Doutor Pompeu.
            Como de costume Daniel subia a rua Teodoro Sampaio em direção ao Hospital das Clínicas. O ônibus municipal estava lotado como em todas as manhãs. Nada parecia diferente naquele dia nublado de terça-feira, excetuando-se o fato de Daniel estar atrasado para a primeira aula, já eram nove e quarenta da  manhã e ele já devia ter chegado à Universidade às oito.
            Normalmente Daniel estaria dormindo recostado na janela no primeiro banco próximo ao cobrador, gostava de sentar-se ali, sentia-se mais seguro. Já havia sido assaltado no fundo do ônibus e aprendera a lição. Não dava sorte para o azar. O ponto em que deveria descer ficava no final da Teodoro Sampaio depois do hospital, em frente ao Instituto Médico Legal. Decidiu descer um ponto antes, mesmo estando atrasado sua fome falou mais alto, apertou o botão para sinalizar ao motorista que iria descer, mas o sinal sonoro não soou, resolveu então puxar a corda amarrada ao teto que tinha a mesma finalidade, o som agudo da campainha finalmente fez-se presente na parte frontal do coletivo. Uma senhora de idade empurrou Daniel dizendo-lhe que ia descer. Alívio, ele finalmente podia respirar.
            Sempre sentia essa sensação de alívio ao descer do ônibus. Essa com certeza não era a melhor hora do dia para Daniel, detestava andar de ônibus, mas pagar estacionamento o mês inteiro acabaria com suas economias. E o transporte publico lhe permitia uma melhor liberdade, um tipo de desapego.
            A região das proximidades do Hospital das Clinicas sempre lhe parecia muito sufocante, apertada, confusa, um lugar imerso em barulho e gente perambulando desordenadamente, ambulantes disputando a calçada com pedestres que aguardam o transporte no ponto de ônibus.
            Perdido em pensamentos Daniel entrou numa lanchonete próxima ao ponto, ele sempre comia nela, que considerava a mais limpa. Pediu uma coxinha e um suco de laranja, o atendente de imediato começou a espremer as laranjas. Daniel ficou ali, apreciando a disposição matinal do atendente. Daniel ficou tão entretido que não percebeu que a pessoa sentada ao seu lado não parava de observá-lo, medindo seus atos, julgando-o. Sorrindo.


Edward Tyler olhou para o agente do serviço secreto parado em frente à porta, do outro lado o homem mais importante do mundo. O agente acenou com a cabeça e deu um passo para a direita abrindo com a mão esquerda a porta do Salão Oval. Aquele clima de segurança extrema, embora necessário para salvaguardar o líder da nação, deixava Edward nervoso. Como se estar ali, na presença do próprio presidente já não fosse pressão suficiente.
Edward entrou no salão arredondado sem se preocupar em se anunciar pois sabia que se estava pisando naquela sala, o presidente Carter já o esperava.
– Senhor Presidente – Edward saldou o homem em pé olhando em seus olhos.
– Já disse para me chamar de Donald. – Respondeu de forma ríspida. Carter continuou em pé esperando seu interlocutor se aproximar. Quando estavam frente a frente, um pequeno silêncio tencionou a ambos. Cortando o silencio o presidente começou a sorrir. Ambos riram juntos. Donald em meio aos risos abraçou Tyler.
– Me diga que conseguimos amigo, me diga que conseguimos – Abraçando Tyler cada vez mais forte o presidente perguntou retoricamente.
– Sim Donald. Sim meu amigo. Conseguimos. Hoje o mundo será seu. – Tyler não se preocupou em esconder a emoção que sentia, lagrimas percorriam seu rosto pousando sobre o terno azul marinho do Presidente dos Estados Unidos. Carter permaneceu em silêncio por poucos instantes.
E onde está? – Perguntou Carter deixando transparecer a afobação daquele momento, mostrando não ter tempo para sentimentalismos.
            Tyler dando um passo para traz retirou um envelope do bolso esquerdo e respondeu:
            – Aqui está. O conteúdo desse envelope mudará o destino do mundo.
Não faça suspense homem, dê-me logo isso – Carter arrancou o envelope da mão de seu amigo que simplesmente deu de ombros. Rasgou a lateral e retirou um pequeno papel de seu interior. Pondo-se em seguida a ler.
– Mas não é possível. – Disse o presidente intrigado – Temos apenas sete dias!



Você acredita em Deus? – Perguntou o estranho homem sentado na banqueta ao lado de Daniel.
O que? – Respondeu Daniel entediado, só faltava essa um Testemunha de Jeová essa hora da manhã, pensou.
Se você acredita em Deus Daniel – Disse o homem abrindo um sorriso tímido ao mesmo tempo desafiador.
Daniel olhou para o estranho que estava atrapalhando seu café da manhã, tentando lembrar se tinha visto ele sentar-se ao seu lado.
Quem é você? Como sabe meu nome? – Perguntou irritado para o estranho.
            – Só quero saber se você acredita em Deus. Respondeu o estranho.
– Suco de Laranja! – Anunciou o balconista. Daniel olhou para o copo grande transbordando suco no balcão. O atendente levantou o copo secando o suco derramado. Daniel resolveu voltar-se para o Evangélico do seu lado.
Então, como você ... – Daniel nem chegou a concluir a frase que havia começado. Onde estava o crente? Pensou.
            Na banqueta ao seu lado não havia ninguém. Apenas a mochila surrada que sempre Daniel carregava forrada de livros.
– Ei. Onde tá o cara que tava aqui comigo? – Perguntou ao Balconista.
Cara? Que cara? Você veio sozinho. – Respondeu o balconista sem dar muita atenção.
Daniel muito intrigado ficou em pé sobre os descansos para os pés da banqueta, examinou todo o salão tentando encontrar o cara que tinha sumido. No seu bolso direito algo começou a vibrar.
Alô! – Atendeu o celular de forma instintiva.
Dan? – Perguntou do outro lado uma voz feminina.
Fala mãe. Que foi? – Respondeu Daniel sem desviar a atenção do salão a sua frente. Olhou na direção de uma placa que dizia "Banheiro Masculino".
            – Bingo! – Pensou em voz alta.
            – O que foi Dan? – Perguntou a mãe confusa.
            – Hãn! Nada não mãe. O que foi? – Daniel sem tirar os olhos da porta do banheiro.
            – Filho você tá me ouvindo? – A voz da mulher parecia preocupada.
            – To mãe. O que você quer? Aconteceu alguma coisa?
            – Filho é sua tia. – Uma pausa que para Daniel pareceu uma eternidade.
            – O que tem a Tia? – Daniel perguntou temendo a resposta.
            – Ela morreu Daniel. Agora de manhã. – Nunca um suco de laranja teve um gosto tão amargo para Daniel.


            Algumas horas depois o presidente Carter acompanhava, apreensivamente, uma matéria da CNN numa tela de 50 polegadas instalada em seu gabinete. Ao seu lado, roendo as unhas, seu amigo Edward Tyler também mostrava inquietação.
– Por quê isso não começa? Disse mudando de canal.
– Creio que ainda é cedo senhor presidente. – Respondeu Tyler percebendo que havia novamente chamado seu amigo pelo cargo, coisa que Donald Carter odiava, principalmente quando ambos estavam assim, sozinhos.
            Percorrendo rapidamente diversos canais o presidente finalmente encontrou o que estava procurando tão alucinadamente.
– Encontrei.
Na enorme tela de plasma ambos viram uma reportagem que exibia o titulo “Ao Vivo” piscando no canto superior esquerdo, era exatamente o que procuravam.
Um repórter de trajes formais anunciava a cobertura de um importante encontro político. A imagem mostrava uma linda decoração em um enorme salão de reuniões onde diversos líderes sentados aguardavam a chegada dos dois mais ilustres convidados. Uma musica calma preenchia o salão e o repórter teimava em tentar ser ouvido pelo seu publico.
– ... e nesse momento histórico, o encontro de diversos líderes da comunidade européia e um representante da Santa Sé, estamos aguardando a entrada do presidente Francês Jackes Lê Month.
Tyler olhou seriamente para Carter, apontando para o aparelho de TV.
– Acho que é agora. – A convicção de Tyler era algo assustador, mesmo para Carter. Mesmo depois de quase trinta anos trabalhando juntos Carter sentia seu amigo ficar mais forte em momentos de crise como aquele.
Na tela a chegada do presidente da França foi ovacionada por todos os líderes sentados na mesa ornamentada de flores posicionada acima do palco. Diversos deles aplaudiram o líder francês de pé.
Tudo parecia muito festivo. O repórter parou de relatar os fatos e somente a imagem do presidente francês sentando ao lado de uma cadeira vazia, bem ao centro da mesa. Flashs disparavam de todas as direções explodindo no rosto magro do chefe de estado da França.
Aproveite os holofotes.  Logo o mundo voltará suas atenções para a América. – Disse Carter olhando fixamente no sorriso do líder francês, que na tela acenava para todos os lados.
 Edward Tyler assentiu esboçando um leve sorriso.



Uma das coisas mais estranhas em um cemitério era que o silêncio e a sensação de quietude jamais mudava. As diversas famílias que chegavam, os carros fúnebres que traziam os corpos, o faxineiro no canto varrendo lentamente as folhas trazidas pelo vento. Tudo aquilo parecia recorrente. Tudo sempre do mesmo modo.
Algumas crianças estavam inquietas correndo inadvertidamente por entre as pessoas. Pareciam não serem afetadas pelo clima de subtração que tomava o coração de todos.
Excetuando os netinhos de Tia Conceição todas as crianças pareciam não se importar. Velório era sempre a mesma coisa.
Para Daniel sua falecida tia era em exemplo de como uma pessoa deveria ser. Sempre feliz, sempre pregando a felicidade, alguém que realmente se importava. Não tinha inimigos, não tinha desafetos. A tia amada por todos. A tia que cuidava de todos. Uma amiga acima de qualquer coisa. Todos gostavam da Tia. Ela era para toda a família à Tia.
Daniel não entendia porque pessoas assim morriam. Pensava que certamente morriam para ficar pertinho de Deus. Nosso mundo precisava de mais pessoas assim, pessoas como Tia Conceição.
O corpo não havia chegado, todos o aguardavam. Para dar o ultimo adeus. A ultima despedida. Chorar.
– Véio! – A voz rouca por traz de Daniel o fez girar com um tímido sorriso. Em sua frente um rosto esperado, um rosto aguardado por todo o dia.
– Cara. Tá foda. Ainda bem que você ta aqui.. – A voz embargada de Daniel saiu enquanto abraçou o amigo, que meio sem saber como agir bateu firmemente em suas costas, demonstrando apoio.
Em meio aos abraços e demonstrações de condolências o amigo de Daniel perguntou:
– E como que tá sua mãe? Ela gostava muito da Tia.
– Sei lá. Eu ainda não falei com ela. Ela ta vindo junto com o corpo, passou o dia todo no IML.
– Cara, e a sua mina? Ela vem?
– Ela já deve estar chegando.
O som do carro fúnebre se aproximando do local onde seria realizado o velório fez os amigos pararem a conversa. Todos que aguardavam pararam de conversar. Um silêncio instintivo tomou conta de todos. Algumas pessoas se aproximaram do carro quando este parou. A mãe de Daniel vinha num carro logo atrás do Rabecão que trazia o corpo. O homem que dirigia desceu do carro e foi até a porta do passageiro e abriu para a mulher descer. Daniel andou em direção ao carro para ampará-la.  A mulher olhou tristemente para o filho sem nada dizer. Daniel olhou para o homem que havia trazido sua mãe e com um modesto aceno de cabeça saudou:
– Pai. – Sem esperar a reação do homem Daniel começou a conduzir sua mãe. Hora apoiando-a, hora sendo apoiado.

           
Na Casa Branca olhos observadores mal piscavam acompanhando imagens rápidas que se intercalavam na tela de plasma posicionada no centro do Salão Oval.
            Na tela o repórter continua narrando os acontecimentos daquele importante encontro político:
– ...uma vitória da democracia e dos acordos de paz. Uma data que entrará para a História, onde sete nações européias assinarão um tratado de  não agressão e desarmamento...
            Colocando o dedo no ouvido sobre o ponto eletrônico o repórter parou imediatamente de falar e virou-se dando espaço para o cameraman enquadrar a mesa de negociação, onde um alvoroço se iniciou. A imagem, como que procurando algo, percorreu toda a extensão da mesa e se fixou num ponto à esquerda. Os dirigentes levantaram e começaram a aplaudir um pequeno corredor humano que se formou naquele lugar. Ao centro do corredor uma figura austera se movimentava lentamente. A voz do repórter recomeçou novamente:
            – ... e nesse momento acompanhamos a entrada de Nossa Santidade, o Papa.
            Na tela, acima do Papa, uma barra verde começou a crescer para a direita ao ponto que o som da transmissão aumentava. Tyler olhou para o presidente que acabara de baixar o controle remoto. Carter mal respirava de tanta atenção no aparelho a sua frente. Na verdade Tyler mal sentia sua respiração. Seu coração batia acelerado. O momento que ambos esperaram por toda vida havia chegado.
            Na transmissão o Primaz de Itália dirigiu-se lentamente para ocupar a cadeira posicionada no centro da mesa de negociações. Diversas pessoas o cercavam, entre elas, os guarda-costas do pontífice, cardeais, ministros e cônsules de diversas nações.
            Todos queriam tocar o Líder do Estado Vaticano, uma comoção teve inicio entre os repórteres  e demais figuras que assistiam ao evento. Um repórter subiu no palco no mesmo momento que o Pontífice sentou-se ao lado do Presidente da França. Os outros reportes gritavam para tirá-lo  dali, uma vez que as entrevistas pessoais foram proibidas.
            O repórter que subiu no palco foi prontamente agarrado por seguranças que começaram a puxá-lo para fora. Enquanto era arrastado o repórter gritou alguma coisa em francês e uma imensa mancha de sangue acompanhada de um forte estampido removeu a transmissão do ar.             Imediatamente o sinal sonoro ecoou na mesa do Presidente Carter. Na tela da TV apenas chuviscos piscavam aleatoriamente.
Donald Carter não apertou o botão que liberava o canal para sua secretária pronunciar-se. Ficou parado, de boca aberta.

                        Claudia apertou o passo, precisava chegar logo, morria de medo de cemitérios. Estar num deles agora não era sua opção, mas há momentos na vida que não temos opções. Olhou a frente e viu Daniel sentado na calçada em frente ao velório. Aproximou-se.
            – Dan? Tudo bem? – Perguntou sem saber como agir.
            – Tô, acho que tô. – Daniel não conseguia esconder o quanto estava abatido. – acho que eles já vão começar. Levantou-se apoiado na namorada. Andou em direção da sala onde parentes, amigos e desconhecidos amontoavam-se para rezar o sufrágio. Uma senhora, antiga, iniciou a entoação  do terço. Claudia apertou forte a mão de Daniel, que tentava acompanhar as orações.
            Sentido o carinho da namorada, Daniel observou que no corpo de sua tia sobre os olhos pousavam rodelas de algodão parecidas com hóstias. Aquilo deixou Daniel intrigado, lembrou de uma antiga tradição grega de pousar moedas nos olhos dos mortos para pagar o Caronte, o Barqueiro, que conduzia as almas á sua morada eterna no Hades. Sem as moedas as almas eram obrigadas a vagar às margens do Aqueronte eternamente.
            Daniel andou silenciosamente até sua mãe e perguntou intrigado:
            – Mãe. O que são essas coisas nos olhos da tia?
            – Ela foi encontrada assim hoje de manhã. Morreu de olhos abertos e na funerária eles não conseguiram fechá-los. Mas não se preocupe com isso, a vó Gilsa já vai resolver isso.
            – A vó Adalgilsa ta vindo pra cá? – Daniel percebeu que deixou escapar um breve sorriso e lembrou-se de onde estava, parou de sorrir.
            – Sim, dizem os antigos que só as madrinhas dos mortos conseguem fazer com que eles fechem os olhos. Aconteceu o mesmo com a tia Geraldina.
            – Como a Tia morreu?
            – Não sabemos. Disseram que ela simplesmente caiu. Arregalou os olhos e morreu. Como se tivesse morrido de susto.
Enquanto falavam um homem se aproximou trazendo uma senhora de idade. Eles se aproximaram do corpo e a idosa lentamente inclinou-se sobre o corpo e passou a cochichar no ouvido da tia morta. A bisavó de Daniel começou a retirar as rodelas de algodão dos olhos do cadáver e balbuciando inaudíveis palavras começou acariciar as pálpebras enrijecidas da tia Conceição.
Tudo aquilo parecia místico demais, uma cerimônia tribal onde um pajé dá ordens ao moribundo deitado numa rede. A velha balbuciando, as pessoas chorando, outras rezando a Ladainha de Nossa Senhora. Tudo começou a girar. Daniel olhou para os lados, sua namorada falou algo que ele não conseguiu ouvir, seu amigo o segurou, tudo girando, Daniel murmurou nos ouvidos de Claudia.
Vou vomitar.
Imediatamente Daniel foi levado para fora, onde se curvou num pequeno arbusto e vomitou todo o café da manhã. O casal que havia arrastado Daniel para fora permaneceu por perto.
– Ju, leva ele pra lavar o rosto – disse Claudia para o amigo de Daniel que a muito custo o mantinha de pé. Juliano amparou o amigo levando-o até o banheiro.
Daniel lavou o rosto e recuperou-se do mal-estar, disse a Juliano que já estava bem. Olhou mais uma vez no espelho, ajeitou brevemente o cabelo e saiu do banheiro. Quando saiu viu algo que seus  olhos não conseguiram acreditar. Ao longe, encostado numa árvore que o outono teimou em levar todas as folhas, o estranho homem que Daniel havia encontrado hoje pela manhã.
O estranho sujeito encarou Daniel desafiadoramente e sorriu.


            O grupo de quatro marines recuou durante o ataque e entrou no banquer. Um grupo maior de criaturas começou a atacar a estrutura que aos poucos pegou fogo. Tiros eram disparados de dentro do banquer. Mais criaturas chegaram. O banquer foi destruído. Os marines foram cercados. As criaturas mataram todos.
            – Droga! – Nathan O’brian bateu no teclado de computador demonstrando a insatisfação de ter perdido no jogo.  Seu trabalho lhe permitia jogar sem interrupções. Jogar no computador era a única diversão possível, uma vez que trabalhava em um barco científico no meio do Oceano Pacífico.
            Estava prestes a reiniciar o jogo para mais uma partida quando ouviu um sinal que lhe fez congelar. Levantou-se e olhou para os diversos equipamentos eletrônicos em sua mesa.
            –Não é possível. – Balbuciou pra si mesmo tentando se convencer que  tudo estava bem.  Olhou no monitor onde um mapa mundial mostrava uma pequena luz vermelha piscante.  Verificou em outro monitor um gráfico que começava a se formar, digitou alguns comandos e aguardou. Ao lado uma impressora começou a emitir um ruído baixo e cuspir uma folha de papel com centenas de números. Pegou uma caneta e começou a circundar alguns deles. O coração disparou.
            – Não pode ser. – Nathan largou a caneta e começou a procurar algo em meio à bagunça sobre as mesas. Levantou uma caixa de sapatos contendo diversos Cd´s. Embaixo da caixa encontrou um telefone de transmissão via satélite. Levantou a antena preta maior que o próprio telefone e discou alguns números. O aparelho emitiu alguns sons agudos e começou a chamar.
            Quando atenderam do outro lado da linha Nathan suspirou aliviado. Olhando para os dados rabiscados na folha que segurava falou com a voz ofegante:
            – Me liga com a Casa Branca. Temos uma emergência prioridade Alpha.


            Scoth Adams estava naquele mesmo serviço já fazia nove anos. Ser o chefe do serviço de proteção presidencial não era um trabalho comum. Na verdade, era um dos trabalhos mais tensos e perigosos que tivera ao longo de seus trinta e nove anos.
            Normalmente seu trabalho na Casa Branca era um trabalho de bastidores, sutil. Dificilmente o trabalho dos agentes destacados para proteger “a fortaleza”, código usado para identificar o presidente dos Estados Unidos, incluía ações táticas ou afobamentos.
            Naquele momento Scoth Adams corria pelos corredores da Ala Oeste apressadamente. No fone de ouvido, outros agentes confirmavam a segurança exterior da Casa Branca e arredores.
            – Estou me aproximando do Salão Oval, a fortaleza será retirada agora! – Scoth acenou com a cabeça e o agente que guardava a porta do Salão Oval permitiu sua entrada. Scoth entrou sem bater.
            – Vamos retirar o senhor para o Banquer Senhor Presidente. – Scoth não se preocupou em aguardar a resposta do Presidente Carter, simplesmente colocou sua mão sobre ele e começou a conduzi-lo.
Carter sabia que não tinha escolha. Sua vida não lhe pertencia e sim aos Estados Unidos da América. Sabia que se fosse necessário o agente Adams o retiraria dali à força.
– Em que Banquer vamos nos instalar dessa vez – Perguntou Carter ao agente acenando para Tyler com a cabeça.
– Como o senhor sabe essa informação deve permanecer em sigilo para sua própria segurança, – respondeu o agente olhando fixamente para Edward Tyler que permanecia paralisado com toda ação de retirada da fortaleza, – não podemos arriscar um vazamento de segurança num momento de crise como esse Senhor.
            – Espere! Tyler vai comigo, ainda não terminamos a reunião! – Carter ordenou ao agente que o empurrava pela passagem esquerda do Salão Oval.
            – Lamento Senhor. O senhor Edward será levado ao Banquer num momento oportuno. Agora precisamos retirá-lo Senhor. Peço que não pare. Um helicóptero o levará até o Força Aérea Um. Dou minha palavra que o Senhor Tyler chegará em segurança ao Banquer Senhor. – Adam estava irredutível, Carter sabia que ele estava certo, por isso fitou Edward nos olhos e disse:
            – Então nos vemos lá Edy.
– Sim senhor presid... –Edward parou – Sim Donald, nos vemos lá.
            Edward viu o presidente sendo levado pela passagem que dá acesso a China Hall. Olhando pelo vidro transparente da janela do Salão, Edward viu o helicóptero Marine One pousar no White House Rose Garden, onde alguns agentes do serviço secreto aguardavam a chegada da Fortaleza.
            – Senhor Tyler? Senhor Edward Tyler? – perguntou um agente do serviço secreto com um telefone sem fio na mão.
            – Sim sou eu. ­– respondeu prontamente pensando que seria transportado para o Banquer.
            – Temos uma ligação de Nathan O’brian do Desbravador, ­ o agente entregou o telefone. – Ele alega ser uma emergência.
            – Alo? Nathan?  Espero que seja importante. – Tyler não demonstrava nenhuma emoção em sua voz, nada podia ser tão importante como o incidente na França de minutos atrás.
            Por alguns instantes Tyler somente ouviu o que Nathan tinha a dizer, seus olhos acompanhavam atentamente o Presidente Carter sendo colocado no Marine One, que decolou em seguida.
            – Você tem certeza disso? – Perguntou Tyler incrédulo. A resposta veio em seguida. Tyler permaneceu em silêncio. Finalmente ordenou: – Saia daí imediatamente. Precisamos de você vivo!


           
            – Quem é você? O que quer de mim? Porque está me seguindo? – Daniel perguntou ao estranho evangélico que lhe seguirá até ali.
            – Já disse. Tenho que saber se você acredita em Deus. – respondeu o estranho para Daniel, que realmente ficou irritado quando ouviu a resposta:
 – Olha cara. Não quero entrar pra porra nenhuma de religião, nem tou afim de comprar revista nenhuma. Vê se me deixa em paz. Minha tia acabou de morrer... – Daniel mal completou a frase e o estranho lhe interrompeu:
            – Ah, sim a tia Conceição, uma pena, uma mulher tão bondosa, tão dedicada, não é justo Deus tê-la levado tão cedo assim.
            – Como você sabe sobre minha tia? Quem é você afinal? – Daniel analisou o estranho de cima a baixo, um rapaz jovem dos seus trinta e cinco anos, de cabelos claros. Usava um terno italiano preto alinhado e uma gravata vermelha. Daniel tentou puxar pela memória tentando se lembrar de onde conhecia o estranho na sua frente. Poderia ser um primo distante, ou coisa parecida.
            – Daniel, só me diz se você acredita Nele e eu te digo quem eu sou e o que você vai ter que fazer para mim. – A voz do interlocutor de Daniel saia calma e precisa. Daniel começou a se sentir propenso a ouvir o estranho. Como se algo em sua voz lhe trouxesse tranqüilidade.
            – Velho. Eu não sei. Eu acredito. Sei lá. Acho que acredito.
            – Perfeito! – respondeu o estranho, –  Era tudo que eu precisava saber. Por hoje já chega. Amanhã continuamos.
            – Como assim amanhã continuamos? Quem é você?
            – Quer mesmo saber quem eu sou? - Perguntou o estranho andando lentamente na direção do portão do cemitério.
– Sim.
– Me chamam por muitos nomes. Eu não gosto de pronunciá-los, procure por uma musica dos Rolling Stones chamada Sympathy  for the Devil. Depois disso você vai saber quem eu sou.
– Dan? – A mão de Claudia pousou sobre os ombros de Daniel.
– Que? – Daniel ficou observando o estranho roqueiro sair do cemitério.
            – Daniel? Você está melhor? – Claudia se mostrou preocupada.
            – Sim estou.
            – Desde quando você começou a rezar? – Claudia perguntou abraçando Daniel. – pensei que você não acreditava nessas coisas.
            – Como assim rezar? – Daniel não entendeu a pergunta.
            – É que você ficou parado falando sozinho. Pensei que estivesse rezando.
            – Você disse sozinho? – Daniel sentiu um calafrio percorrer toda sua espinha.
            No velório pessoas começaram a acompanhar o caixão.






















Capítulo Segundo – Revelação


Maciço de Tamu
1600 km a leste do Japão

            Nathan não se considerava um soldado. Pelo contrário, odiava toda aquela pompa militar. Sabia que seria novamente testado. Respirou fundo. Tomou coragem e puxou a alavanca que mantivera a escotilha fechada a maior parte da viagem. Colocou a cabeça para fora. A tempestade que perdurava desde ontem não havia passado. Olhou para cima, seu dom da visão foi embaralhado pelas gotas grossas da chuva. Um fuzileiro tomou a valise preta de suas mãos.
            – Tome cuidado isso é muito sensível. – Advertiu o soldado brutamontes que com voz ríspida devolveu:
            – Senhor, tenho ordens de embarcá-lo em segurança. Por favor, não me faça perder tempo.
            O soldado, de pouco mais de dois metros de altura, conduziu o especialista para a popa do Desbravador, o barco científico que fora sua morada pelos últimos dois anos. A tempestade fazia a pequena embarcação balançar, algo que faria um marinheiro regurgitar o almoço. Nathan ficou preocupado, pois no meio daquela chuvarada, não conseguia ver o navio de transporte. No chão jaziam granadas de fumaça avermelhada.
            – Como vamos sair daqui? – Perguntou – Nadando?
            O soldado de rosto cerrado apenas esticou o indicador e apontou para cima. O Sea Hawk SH-60F eclipsava a tempestade. Pairado sobre a pequena embarcação, descia lentamente um cabo, guiado pelas mãos tremulas de um segundo soldado.
            Nathan tentou protestar, mas o truculento soldado fingiu não ouvir. Um mosquetão de rapel foi rapidamente atrelado à cintura. O gancho da corda fixado ao mosquetão. A pequena valise preta, assim como Nathan e foram içados da embarcação.  A corda trepidava acompanhando o rotor da aeronave. Olhou para baixo, o soldado parecia dar ordens ao piloto, movimentos precisos com as mãos. Nathan só pensava que iria morrer. Um raio rasgou o firmamento. O especialista pendurado teve a impressão que faltou pouco para o helicóptero não ser atingido.
            Com a ajuda do segundo soldado, o cientista, agora, estava a bordo da aeronave. O barulho ensurdecedor tomava toda a cabine.
            – Temos que sair daqui – Nathan gritou o mais alto que pôde.
            – Senhor não consigo ouvir – Um fone com microfone foi passado para o cientista. – Mas temos que sair logo daqui. – Apontando para fora da aeronave.
            Nathan viu em meio as grossas gotas de chuva uma imensa onda, uma enorme parede d'água, vinte metros de fúria, aproximando-se no horizonte, devorando tudo que toca. O soldado à sua direita, fez os incompreensíveis gestos militares com os dedos e o Sea Hawk começou a subir. Deixando o Desbravador e o soldado de rosto rude à própria sorte.
           
                                                                                  
                                                                                   




 Cheyenne Mountain
 Colorado – EUA

           
            Carter falava ao celular quando uma curva fechada, pressionou seu corpo contra a porta da SUV que rodava em alta velocidade.  Pela janela a paisagem mudava a cada curva. A montanha que a pouco parecia distante agora se avizinhava.
            – Desculpe Senhor Presidente. Estamos chegando ao NORAD.  – Carter assentiu com a cabeça. Todos estavam nervosos. Voltou ao telefone.
            – Eu não quero saber desses detalhes. Eu quero falar à Nação agora! – Poucas foram as vezes que Carter gritou ao telefone daquela maneira. Pelo retrovisor o motorista se demonstrou preocupado.
            – Eu sei que o Papa morreu. Estou sendo arrastado para dentro da montanha por causa disso. Resolva isso. – Carter desligou o telefone. Sabia que seu pedido seria atendido. Afinal ele era o presidente.
            O comboio militar finalmente parou. Dando passagem livre aos carros velozes do Serviço Secreto. Eram carros pretos, blindados. Há muito tempo não utilizavam o velho Cadillac Fera. Isso era coisa do passado. Com os avanços tecnológicos e novas armas usadas por terroristas o luxo deu lugar ao prático. Os Chevrolet Suburban eram a vanguarda motorizada de todas as agências. Sete deles em fila pararam na entrada da montanha. Um complexo construído durante a Guerra Fria, cujo o objetivo ainda é manter o Poder funcionando, independente da emergência que os Estados Unidos estejam enfrentando. Ataque nuclear, queda de meteoro, invasão de nações inimigas e quando a vida de algum chefe de estado é ameaçada. O protocolo de segurança era claro: Em caso de atentado bem-sucedido contra a vida de algum chefe de estado importante o governo americano deveria se proteger.
            Homens do serviço secreto e militares rodeavam o carro fortaleza para fazer a extração em segurança. O presidente saiu apressado. Cercado por todos os lados por agentes Carter mal podia ver o enorme complexo que estava adentrando. O túnel parecia enorme. Um agente digitou um código para a liberação do elevador. Somente quatro pessoas entraram na cabine acompanhando a fortaleza. Três agentes experientes cujos os nomes e histórias pessoais eram familiares ao presidente e seu amigo de longa data Tyler. O elevador desapareceu no fosso, numa queda que parecia interminável.
            – Próxima parada Osaka, Japão – Tyler tentou cortar a tensão de toda aquela situação. Um dos agentes teve que conter o riso. O presidente olhou diretamente para o amigo.
            – Um Yakissoba de carne com alooiz flito. – Contrariando o protocolo todos riram.
            O elevador finalmente parou. As portas abriram e Tyler não conseguiu conter a surpresa. De boca aberta vislumbrou o auge da tecnologia estadunidense. Dezenas de telas cobriam as paredes, mesas de controle e diversos servidores espalhados por todos os lados. Parecia a sala de controle da NASA, que aparece em todos os filmes de meteoros.
            – Senhor. – O agente arrancou Tyler de seu vislumbre. – Por aqui por favor.
            – Sim. Claro. –
Tyler acompanhou o agente para o que parecia uma sala de reuniões.
            Na cabeceira da enorme mesa de vidro Carter observava atentamente alguns documentos em uma pasta. Todos os lugares aparentemente estavam ocupados. Alguns civis, entre eles o vice-presidente, diversos militares de altas patentes, generais ostentando medalhas por bravura e heroísmo. Carter colocou os papéis na mesa. Olhou para Tyler e com uma calma assustadora perguntou:
            – Diga amigo. Seja sincero. Quando é que o mundo vai começar a acabar?




































sábado, 15 de junho de 2013

Personalidades da Campanha (npcs)

Capitão Robert Birth
Guerreiro - Humano
36 Anos













Robert Birth, ou Birth como é chamado é o líder do grupo Caveiras Negras, um grupo de Elite no Reino de Cormyr. Os Caveiras Negras só respondem diretamente ao Rei de Cormyr, Azorius Obarskyr III, filho de Azoun Obarskyr XI.




Azorius III
Guerreiro - Humano
44 Anos













Rei de Cormyr, Azorius Obarskyr III, filho de Azoun XI, foi o rei responsável pela mudança da capital de Suzail para Arabel. Diversos ataques à Suzail fizeram com que tomasse tal decisão. Azorius III tem apenas um herdeiro: Azorius IV.



Frunan Carter
Clérigo de Bahamut - Humano
34 Anos



















Frunan é o Conselheiro Real e também o único clérigo vivendo no Forte do Desfiladeiro. Diversas são suas atribuições dentro do Forte, o que faz que raramente seja visto fora do Castelo.


Sargento Wolf
Guerreiro - Humano
41 Anos



















O Sargento Francis Wolfenstein é o líder dos Dragões Púrpura de Cormyr. Desde sua infância treinou avidamente para chegar a essa posição. É o segundo no comando no Forte do Desfiladeiro. Seu filho Willian Wolfenstein, um Caveira Negra, foi morto recentemente. Situação que abalou o coração de sua mãe Ligia Wolfenstein, fiel companheira de Wolf.


Os Cavaleiros Solitários
Tom, o Baixo
Ladino - Humano
41 Anos

Bruce, o Alto
Guerreiro - Humano
37 Anos

Dean, 
o Cabeludo

Ranger - Humano
29 Anos
















Tom Braidwood (o Baixo), Bruce Harwood (o Alto) e Dean Haglund (o Cabeludo) se autointitulam os Cavaleiros Solitários, um grupo de combate às conspirações da corte de Cormyr. Especialistas em disfarces e espionagem militar estes três inseparáveis amigos são os aliados principais dos aventureiros no Forte do Desfiladeiro.